O homem tem
falhado na sua busca por restaurar o seu relacionamento com o criador. Quando
pecou, no jardim do Éden, foi expulso da presença de Deus perdendo a comunhão que havia entre ele e Deus. Desde então, o homem tem feito inúmeras tentativas para chegar-se a Deus e ser
aceito de novo por Ele. Uma delas tem sido a busca por uma religião. Temos
ouvido muitos afirmarem: “Todos precisam ter uma religião”. “Não importa qual
seja a religião, todas são boas e nós precisamos ter uma”; ou, “Todos os
caminhos levam a Deus”.
A palavra
religião vem do latim religare, que
quer dizer “religar”, “unir outra vez”; ainda reeligere, “reeleger”, “nova escolha”. “Conjunto de crenças, leis e
ritos em um ser superior com o qual o ser humano se relaciona”.
No entanto,
para Deus não basta ter uma religião ou mesmo sermos muito religiosos. Aos
olhos de Deus, o que para nós serve de exemplo, pode não passar de farisaísmo.
Deus vê o interior, o coração e não apenas o exterior.
No texto de Mateus 11:28-30, encontramos um confronto diante da mera religiosidade do seu próprio povo. Diante da
pergunta de João Batista se Jesus era o Cristo, ou se deveriam esperar outro,
Jesus chega a este desfecho, após responder aos seguidores de João que como
Messias ele veio cumprir o que sobre ele estava escrito (Is. 61:1-3), fez elogios
a João como o maior e último dos profetas veterotestamentários. Em seguida Jesus declara os “ais” contra as
cidades de Betsaida e Corazim, finalizando com uma oração dando graças por Deus
ocultar “estas coisas” dos sábios e entendidos, e revelar aos pequeninos.
É nesse
contexto que Jesus faz o seu mais famoso convite, o “Vinde a mim”.
Não se trata
de um simples convite. Não era para ir a uma festa, nem tão pouco para ouvir
mais um dos seus ensinos, ou ver outro milagre. Este convite demonstra algumas
verdades importantes:
1. É um
convite que confronta com uma situação espiritual: é para os cansados e
sobrecarregados (28a). Quando Jesus
diz: “Vinde a mim”, de início o convite já implica em deixar de seguir a outro;
implica em ter que reconhecer que os mestres que eles seguiam não estavam
ensinando corretamente e que eles nunca chegariam a Deus; Há um confronto!
Ele diz:
“Vinde a mim, todos que estais cansados e sobrecarregados”... De que? Por quê?
O que causava o cansaço? Qual era o tipo de carga, ou de sobrecarga? Comparando
este versículo com o 29, percebemos que a carga era um tipo de julgo, que os
judeus estavam carregando. O que significa isto?
O jugo,
literalmente, significa uma canga colocada no pescoço do boi. Como Jesus estava
falando de forma metafórica, devemos entender o que significava este “jugo”.
Era comum no
judaísmo falar do “jugo da lei”, uma expressão que implicava profundo estudo da
Torá e na obediência a ela como meio de se obter a aceitação de Deus. Cada
mestre tinha seu jugo, ou seja, normas, regras, obrigações, e os seguidores
deveriam aceitar levar este jugo; Quanto mais pesado fosse o jugo, mais valor
tinha o mestre. Nos dias de Jesus, os escribas e fariseus estavam impondo um
fardo pesado sobre os judeus, que nem eles mesmos podiam levantar (Mt. 23:4).
Além da lei de Moises, eles criaram mais de 600 normas acrescentadas sobre a
lei e exigiam obediência a estas normas, bem como a Torá, como meio de ser
justificado dos seus pecados. Segundo declara Hendriksen:
“O convite
de Jesus é direcionado àqueles, cujas costas os fariseus haviam lançado pesados
fardos, pesadas cargas, exigindo meticulosa obediência não só da lei
propriamente dita, mas também das intrigadas elaborações que dela fizeram”.
2. É um convite exclusivo para ir
a Cristo e segui-lo: “vinde a mim”, “aprendei de mim”, “tomais sobre vós o meu
jugo”. O convite é exclusivo porque é para ir a Jesus. Não está se
tratando de ter uma nova religião, ou de acrescentar mais fardo em cima dos que
já existem.
O que significa ir a Jesus? “O
que significa ir a Jesus é claramente descrito em João 6:35: ‘O que vem a mim
de modo algum terá fome, e o que crê em mim de modo algum terá sede’. É obvio,
à luz dessa passagem, que “ir”, significa “crer” nele. Essa fé é reconhecimento
e confiança, tudo de uma vez” (Hendriksen). Ao ir a Jesus ele, nos reconcilia
com Deus, pois somente Ele “é o caminho a verdade e a vida (Jo.14:6); é o único
mediador entre Deus e os homens (II Tm. 2:5) e o único nome pelo qual importa
que sejamos salvos (At.4:12);
Nas palavras de J. C. Ryle,
esta exclusividade reivindicada pelo próprio Jesus é evidenciada ainda porque
ele disse: “Tudo me foi entregue por meu Pai”. Ryle continua: “Ele tem a chave.
Para ir ao céu, precisamos ir até ele. Ele é a porta. Precisamos entra por
intermédio dele. Ele é o pastor das ovelhas, precisamos ouvir sua voz e
segui-lo. Ele é o medico da alma. Precisamos consulta-lo se quisermos ser
curados da praga do pecado. Ele é o pão da vida. Precisamos nos alimentar dele,
se quisermos que nossas almas sejam satisfeitas. Ele é a fonte da vida.
Precisamos lavar-nos no seu sangue, se quisermos ser purificados e preparados
para o grande dia da prestação de contas”.
Jesus fala de aprender dele, de
se tornar um discípulo de Jesus e tomar o jugo de Jesus em troca do jugo dos
fariseus. Naquele tempo a expressão “tomar o jugo” significava tornar-se um
discípulo. Se compararmos estas palavras com o que Jesus ensinou no sermão do
monte, podemos extrair importantes lições. Aqui Jesus diz: “Aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração. E achareis descanso para as vossas almas”.
Em Mateus 5:1-12, Jesus fala das Bem-aventuranças, isto é, achar a verdadeira
felicidade em Jesus. A primeira bem-aventurança é para os humildes de espírito.
Mais adiante Jesus vai também falar outra bem-aventurança para os mansos. O que
estes dois textos possuem em comum? Ir a Jesus, aprender dele e levar o seu
fardo, implica em reconhecer sua incapacidade de justiça própria, e isto
significa se esvaziar de si mesmo, não se encher de orgulho espiritual como
faziam os judeus. Uma pessoa mansa, é rendida ao Senhorio de Jesus, não procura
inimizade com o próximo e quer ter a paz de Deus em sua vida. O que os judeus
deveriam fazer era somente crer em Jesus, reconhecer que Ele era o Cristo e
segui-lo.
3. É um convite para achar alivio
e descanso espiritual (29,30). “Jesus lança seu convite às almas
cansadas, não apenas a corpos cansados”. É bem verdade que o alivio da alma
alcança, por tabela, todas as áreas da nossa vida, mas Jesus tem muito mais a
oferecer ao homem do que apenas curas para as enfermidades, libertação de
demônios, mortos ressuscitados, suprimento de alimento para a fome etc.
As pessoas estavam
sobrecarregadas pelo legalismo do judaísmo farisaico, incapaz de trazer
justificação dos seus pecados. O sentimento de culpa, que não traz
arrependimento e conversão gera opressão espiritual. Quando não há comunhão com
Deus, falta a paz interior. O convite de Jesus é para termos alívio para a
alma, e isto só é possível quando o homem pecador tem de volta o seu
relacionamento com o seu criador. Ryle
afirma o seguinte: “Em Cristo encontramos descanso – descanso para a
consciência e para o coração, descanso fundamentado no perdão, descanso que é
resultado da paz com Deus”. Ao irmos a Jesus temos paz com Deus; ao aprender
dele e tomar o seu fardo temos a paz de Deus. No discurso do apóstolo Pedro,
registrado em Atos 3:19, ele diz: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para
que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério
pela presença do Senhor”.
Jesus não promete uma vida sem
problemas ou livre de sofrimento ou de perseguições. Quando Jesus diz: “o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve”, Ele não está chamando seguidores para viver
uma vida sem compromisso, ou sem obrigações morais. O problema do “jugo da
Torá”, não estava no fato de se obedecer aos mandamentos do Senhor. Pelo
contrário, o Salmo 19:7 diz: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”. O
problema era a maneira como esta lei estava sendo ensinada e os acréscimos que
foram dados a ela. “Jesus não promete uma vida de inatividade ou repouso, nem
isenção de tristezas ou lutas”. Sem duvida existe a cruz para carregarmos, se
quisermos seguir a Jesus. “Aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz e siga-me”; “Mas, o consolo do evangelho ultrapassa em
muito o peso da cruz”, acrescenta Hendriksen.
Mas, o jugo de Jesus é suave e
o seu fardo é leve, porque somos salvos pela graça por meio da fé (Rm. 3:28;
Ef.2:8-10). Ir a Jesus significa crer que ele veio buscar e salvar o que se
havia perdido. “É um jugo da fé, e a fé ergue todos os fardos” (Ryle). É leve e suave porque a graça
de Deus nos capacita a carregarmos os fardos sem confiarmos em nós mesmos, mas
na dependência da ajuda de Jesus, que transporta ao nosso lado nos ajudando a
carregar a cruz. A Lei, em si mesma, leva a
condenação. Por meio da lei veio o conhecimento do pecado e com a lei a
condenação. “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”.
(Rm.10:4). “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,
para que pela fé fôssemos justificados”. (Gl.3:24). Quando servimos a Cristo, nos
tornando seus verdadeiros discípulos nossa obediência a Ele e aos mandamentos
do Senhor não se tornam pesados: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos
os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados”. (1 João 5:3)
Conclusão
“Você pode ter sido batizado na igreja, criado
na igreja, servido na igreja. Pode ser que tenha se casado na igreja, morrido
na igreja, ter sido velado na igreja e ainda assim acordar no inferno caso
esteja meramente na igreja e não em Cristo”. (Mark Driscoll)
Pr. Raimundo Linhares
No dia do Senhor (18 de agosto
de 2013)
IEC Ebenézer - Catolé do
Rocha/PB
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